Desafio Criativo: A Voz do Vinil Verde : Uma Obra de Horror Brasileira
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A Voz do Vinil Verde : Uma Obra de Horror Brasileira

"Há uma quinta dimensão além daquelas conhecidas pelo Homem. É uma dimensão tão vasta quanto o espaço e tão desprovida de tempo quanto o infinito. É o espaço intermediário entre a luz e a sombra, entre a ciência e a superstição; e se encontra entre o abismo dos temores do Homem e o cume dos seus conhecimentos. É a dimensão da fantasia. Uma região Além da Imaginação".

Se Rod Serling, criador da série Além da Imaginação (The Twilight Zone, EUA, 1959-1964) tivesse assistido ao filme de Kleber Mendonça Filho, não hesitaria em transformá-lo em mais um episódio desse famoso seriado. Uma filha, uma mãe. Um disco que não se pode ouvir, uma criança que não sabe obedecer: um Vinil verde. Uma relação que entra em uma nova dimensão, uma dimensão... Além da Imaginação. O que chama atenção nos curtas desse diretor pernambucano é justamente como ele consegue criar uma atmosfera insólita em seus filmes. Em A Menina de Algodão (2003) já se observa tanto a influência do cinema fantástico norte-americano quanto do gênero de terror nipônico, A personagem de A Menina de Algodão lembra a de Ringu (1998), mais popular na versão americana: O Chamado (2002).

Vinil Verde cria essa atmosfera por meio de aspectos simples: o filme “contém algo que me parece essencial no gênero 'fantastique', que é criar o absurdo a partir de um realismo completo. O filme não se passa num castelo da Transilvânia”, diz Kleber. O fantástico quebra o cotidiano de filha e mãe e dele próprio irrompe. A narração é feita nos moldes de uma história infantil. A voz do narrador soa, por vezes, irônica como se relatasse uma fábula. O vinil verde — tanto pelo título quanto pelo enredo — evoca o selo Disquinho, lançado pela gravadora Continental, na década de 40, em que o compositor Braguinha adaptava histórias infantis tradicionais em disquinhos coloridos A previsibilidade do filme torna os atos mais cruéis, pois a fatalidade acontece, o destino cumpre-se e nada o pode impedir. É na linguagem do filme, porém, que se encontra o elemento de destaque, o que o faz diferente dos outros. Cada frame é exposto durante cerca de um segundo, por vezes mais que isso, a imagem não é contínua. Parece uma apresentação de slides. O editor do filme Daniel Bandeira diz que “Vinil Verde é como se fosse um filme normal, mas que está faltando fotogramas. Você entra com os que estão faltando” — um modo inovador e criativo de contar história e de compor a atmosfera do fantástico.

O som das imagens apresentadas é exposto, muitas vezes, de forma contínua: a cortina, os talheres no café da manhã, os passos no corredor, o abrir e fechar da porta, a música do vinil verde. A trilha incidental que sonoriza a analogia entre Ringu e Vinil Verde é respectivamente os ruídos que emanam do rolo da fita de vídeo e da agulha da vitrola arranhando o vinil.

Apesar do clima e da atmosfera criados, o final fica abaixo da expectativa alimentada ao longo do curta. Um desfecho diferente talvez fizesse de Vinil Verde uma pequena obra-prima do curta nacional. A previsibilidade, que tanto ajuda no corpo do filme, atrapalha no final.

Vinil verde acirra outros olhares, outras interpretações calcadas no mundo infantil ou na imaginação adulta, visões que se entrecruzam e se completam na sétima arte. Confira, vale a pena.


Confira o Trailer do curta Metragem:


"Quando trabalho, estudo e lazer coincidem ocorre o ócio criativo"  Domenico de Masi.

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