Cidadania Com Criatividade em Cali, Colômbia
Pouca gente sabe, mas as cores que enaltecem a
paisagem da estrada que liga a cidade de Cali à cidade litorânea Buenaventura
guardam muito mais histórias de sorrisos do que se pode imaginar.
Com seus 3 milhões de habitantes, a terceira
maior cidade colombiana não difere dos padrões latinos para cidades deste
tamanho, possuindo em determinados locais bons níveis de IDH (índice de
desenvolvimento humano), evidenciando a volta por cima deste belíssimo país e
de pessoas de bem sobre as décadas tomadas pelo narcotráfico. No entanto, sua
distribuição de renda permanece concentrada em uma pequena parte da população e
com certa facilidade é possível encontrar pulverizada em sua área geográfica as
invasiones, ou invasões, como eles denominam
suas favelas.
Morando há 6 meses em Cali e me tornando cada
vez mais fã deste país e seu povo, já tive oportunidade de vivenciar experiências
únicas em minha vida, mas a do último fim de semana, por sua simplicidade e
sorrisos encadeados, foi a que mais me marcou até o momento.
Entre Cali e Buenaventura, a estrada Via al Mar
faz jus ao título de ser considerada tipicamente colombiana. Com suas sinuosas curvas
e subida até as nuvens, corta a cordilheira Ocidental e liga a Capital da Salsa
ao litoral Pacífico, que pode não possuir a fama de praias caribenhas e
celebração de festas, como Cartagena e San Andres, mas evidencia rica
biodiversidade e praias virgens que proporcionam encontros com baleias, que
escolheram essas águas para se acasalar em cada início de segundo semestre.
E é nesse trecho desta viagem que pintei não o
sete, e sim as casas da Comuna 1 de Cali. O Terrón Colorado é um bairro a oeste
da cidade do estado de Valle del Cauca à beira de estrada que chama atenção por
sua quantidade de casas “auto-construídas”, emaranhadas vertical e
horizontalmente e de economia pouco desenvolvida; estima-se que 55% de sua
população pertença à classe D- e 45% à classe D. Com o intuito de converter a
paisagem e vida das milhares de pessoas que ali moram, surgiu o Projeto Terrón
Coloreado, iniciativa idealizada por Sandra Freye.
Sua essência consiste em utilizar um elemento
de baixo custo e fácil manuseio como tintas para pintar as casas e muros deste
bairro, de modo que a experiência funcione não somente por seu componente
estético, mas principalmente como agente reciclador da sua vida sociocultural e
a identificação de seus moradores com seu entorno. “Coloreado” em espanhol
significa colorido, unindo ainda mais a causa do projeto com o nome do bairro
beneficiado.
Na prática todo o processo foi
fácil e organizado. A organização do projeto disponibiliza as cores para pintar
cada casa e os voluntários são separados em grupos, cada um responsável por uma
casa. A única regra é que só pode sair do local depois de pintar toda a casa de
que se é responsável.
Não me surpreendo em saber que o
projeto tem crescido exponencialmente, em especial nas duas últimas edições,
que em média ocorrem a cada trimestre. Ontem, por exemplo, a organização do
projeto pode contar com 600 voluntários cheios de energia para colorir a vida
desses moradores. E orgulhosamente fui um destes!
Até breve!